Domingo, Novembro 24, 2024

Entrevista da Semana Willians Pizolato Diretor da ETEC

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Natural de Jales, graduado em processamento de dados, o diretor da Escola Técnica de Jales, Wilians Pizolato, já foi docente e diretor da ETEC de Rio Preto, tem mestrado na área de desenvolvimento de programas de computador, atuou na área privada e pública na capital paulista e até no Mato Grosso. Diz que optou por Jales por causa das origens. Elogiado por alunos, funcionários e professores, Willians foi entrevistado no Interior Cast, canal apresentado por Franley Júnior e Matheus Garcia no YouTube. Veja um resumo dos principais pontos:

A Tribuna: O que te fez ingressar na área de processamento de dados em 1998, quando a área ainda era muito mais difícil do que hoje? 
Willians Pizolato: A demanda. Na época eu trabalhava no Objetivo e era preciso criar um programa de computador para fazer a gestão dos alunos e eles contrataram um profissional que iniciou o sistema e eu me apaixonei por aquilo. Depois fui fazendo uma série de cursos, capacitações, treinamentos… até que ingressei na área acadêmica, com especialização. Na época que eu fui pra São Paulo, já havia a perspectiva de trabalhar com educação, de alguma maneira. E eu gostei de trazer o mercado de trabalho para dentro da escola, a parte de profissionalização do aluno, mantê-lo atualizado no mercado etc. Foi uma opção profissional.  

A Tribuna: Naquela época, o mercado de trabalho já remunerava bem nessa área?
Willians Pizolato: Já remunerava bem, mas não tinha toda essa demanda que tem hoje. Era menos exclusiva, era mais específico, tinha que ter muita formação para trabalhar com os equipamentos. Mas, sempre que você se especializava, já tinha encaminhamento. Hoje é uma realidade, isso trouxe um impacto para gente enquanto escola porque demonstrou que a nossa ideia de oferecer cursos na área de informática, desenvolvimento de softwares, suporte de informática era certeira porque garante ao aluno uma condição muito mais favorável de arranjar emprego. E a pandemia quebrou muitos paradigmas, entre eles o de que para se ter uma boa formação em informática era preciso ir para grandes centros. Isso não é verdade. Hoje temos a ETEC e a Fatec que trabalham com excelência nessa área. Os nossos alunos saem com a formação pronta para trabalhar. 

A Tribuna: Hoje em dia, vemos muitos profissionais trabalhando sem ter certificação de graduação. O que significaria a regulamentação profissional para um desenvolvedor de sistemas? É uma coisa muito formal?
Willians Pizolato: Atualmente eu nem acompanho esse discurso porque não acredito que será possível regulamentar todas as funções de quem atua com computador. Esse discurso é cíclico e já já ele passa. O que motiva agora não vai motivar mais tarde. Todo mundo tem que conhecer informática hoje em dia. Nos cursos lá da ETEC, por exemplo, o curso de agropecuária precisa de informática. O aluno conhece todo o ciclo de agricultura de precisão, com GPS, coleta de solo para definir a adubação. Nesse período teve trabalho com drone, controle da produção, então todas as áreas precisam da informática. Como você vai regulamentar isso? Qual vai ser a proposta? O que a regulamentação vai nos proporcionar? Não podemos engessar esse universo porque podemos perder a liberdade de criação imediata e da apresentação de soluções. 

A Tribuna: Você mencionou a questão da tecnologia em todas as áreas. Como o aluno chega para vocês hoje? As escolas entregam esse aluno com defasagem?
Willians Pizolato: Por causa da pandemia, nós tivemos uma defasagem muito grande nos últimos dois anos. Tivemos uma perda de aproximadamente dez anos. E não só a questão da parte acadêmica. O aluno que nasceu durante a pandemia não teve a possibilidade de se socializar. A quantidade de alunos que estão sendo encaminhados para um terapeuta ou psicólogo está explodindo. As nossas crianças estão precisando de apoio de uma rede de proteção de saúde mental. A escola está sendo um amortecedor para esse processo. Eles chegam com várias questões de ansiedade, transtornos psicológicos de toda ordem. A gente acaba fazendo o atendimento primário, aciona a família e encaminha para a rede de atendimento.
Acho que esse vai ser o pior legado para os nossos alunos. A aprendizagem foi muito prejudicada nestes dois anos. A gente trabalha hoje com recuperação contínua durante o ano e ao mesmo tempo a gente está desenvolvendo projetos de recuperação do conteúdo que não foi adequadamente trabalhado nesse período. 

A Tribuna: NA ETEC, como se chega ao cargo de diretor? É por eleição, concurso, como é feita essa escolha?
Willians Pizolato: Na ETEC, sim. A escolha é feita pelos alunos, professores e funcionários.  É uma lista tríplice. Os três mais votados são encaminhados para a administração central que faz a indicação do profissional que vai dirigir a escola pelo período de quatro ano. No final desse período, a gente pode tentar a reeleição por mais um período. 

A Tribuna: E como você chegou a dirigir a escola em Rio Preto?
Willians Pizolato: Eu fui convidado a participar do processo eleitoral lá, fiz a minha inscrição e peguei os indicadores da escola e fiz uma proposta de trabalho. No fim tive uma votação bastante expressiva.  

A Tribuna: Já conhecia alguém de lá?
Willians Pizolato: Não. Eu apenas fui e fiz. 

A Tribuna:  E voltando a falar da escola, como nasceu a ETEC Jales, qual é a história da escola?
Willians Pizolato: A ETEC nasceu como Escola Agrícola, onde ela está até hoje no Córrego do Tamboril. Foi uma movimentação da sociedade jalesense em busca dessa escola, que era uma grande reivindicação. Sempre foi uma escola sempre à frente do seu tempo. Foi a primeira escola a trabalhar com plantio direto. Jales sempre teve muita importância junto aos produtores rurais porque sempre trouxe novas tecnologias de produção e buscou o enriquecimento da nossa produção.
Sempre tivemos e temos alunos de cidades a 500 ou 600 quilômetros de distância. Em 2010 houve um processo de expansão de todas as ETECs porque observou-se que a necessidade de profissionalização era eminente. Foi quando recebemos o prédio urbano que era o DOC e completamos a implantação dos cursos de gestão e informática. Mais recentemente hoje a implantação do curso de enfermagem. E a gente vem crescendo constantemente. São 37 turmas com 960 alunos. Começou como escola agrícola. Então continuamos como Escola Agrícola, no Prédio Rural e com o Prédio Urbano.    
Mas como eu disse, a ETEC Jales sempre esteve na vanguarda do ensino. Hoje nós temos o curso que se chama articulação do ensino médio com ensino superior. Nessa turma específica que é dos cursos de desenvolvimento de sistemas integrado ao ensino superior, o aluno entra na ETEC, faz os três anos com a parte profissionalizante integrada e ele é inserido dentro do mercado de trabalho com a participação das empresas. Quando ele termina o terceiro ano, ele entra direto na Fatec no segundo ano, terminando a graduação. É um projeto internacional que nasceu nos Estados Unidos através da IBM para acelerar a oferta de trabalhadores no mercado de trabalho. Aqui o Centro Paula Souza foi o primeiro do Brasil a adotar essa modalidade, apenas em quatro unidade em todo o Estado. Isso dá uma facilidade muito maior para o aluno entrar no mercado de trabalho durante a sua formação porque ele foi forjado de acordo com as necessidades do mercado de trabalho.  

A Tribuna: No Brasil estamos conseguindo melhorar a formação profissional das pessoas e já está faltando profissional de formação básica, como costureira, por exemplo. Você acha que no futuro o Brasil terá que importar essa mão de obra mais básica para suprir a falta de profissionais?
Willians Pizolato: Nós já temos isso. temos o subemprego nas grandes capitais temos trabalhadores em sistema análogo à escravidão vindos de outros países. Mas a gente não pode pensar que isso seja um fator gerador de postos de trabalho ociosos. Nós já trabalhamos nesse aspecto. Junto com a prefeitura municipal nós fizemos sete cursos rápidos de qualificação profissional nos últimos quatro meses. São cursos para atender a demanda que têm o propósito muito específico, normalmente quando os empresários solicitam esse profissional, a prefeitura percebe essa demanda.  

A Tribuna: E como foi a procura por esses cursos?
Willians Pizolato: Especificamente o curso de corte e costura teve uma procura muito pequena mas sabemos que a demanda é muito grande e que tem confecções que precisam enviar parte da produção para outros municípios porque não encontram profissionais aqui. Então pensamos em repetir o curso e até criar um curso específico de técnico em vestuário, que é mais robusto e dura um ano e meio. Então a escola se adapta ao mercado de trabalho, estamos sempre pesquisando em campo a necessidade da sociedade.  

A Tribuna: Hoje em dia, uma criança já é inserida no mundo da informática e tem um nível de acesso à informação muito grande e a possibilidade dela escolher um curso de corte e costura ou um curso de desenvolvimento de sistemas. Se você chegar numa sala de aula do terceiro colegial e perguntar quem quer fazer um curso de corte e costura, talvez não preencha a demanda do ramo. 
Willians Pizolato: Não podemos pensar localmente. Não podemos pensar apenas no grupo de pessoas que conhecemos, e eventualmente no município, mas quando expandimos o campo de visão para outros municípios e outras realidades sociais, percebemos que a pessoa procura uma formação profissional que lhe dê sustento. Por exemplo, quando a gente divulga que uma das profissionais que trabalham numa confecção em Jales ganha R$ 5 mil por mês…? O que não podemos é criar o subemprego. Uma faxineira ou um cuidador não é um subemprego, tem que ser bem remunerado.  

A Tribuna: Conversamos outro dia com um empresário que contou que não encontra mais funileiro, mesmo que esse profissional consiga uma remuneração mensal de R$ 5 mil trabalhando para uma única pessoa. Onde em Jales se consegue um emprego com essa remuneração? Então existe muita área que não é vista, mas remunera bem. 
Willians Pizolato: Muito difícil. E para as escolas particulares às vezes não é viável criar um curso de formação básica porque pode não ter essa demanda para o investimento, então para isso você tem recursos do governo do estado para a execução. Quando você precisa, por exemplo, de um curso de solda, que exige um laboratório muito dispendioso, o município pede e o governo manda os cursos itinerantes e consegue formar 60 profissionais em poucas semanas.

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