Sábado, Novembro 23, 2024

Entrevista da Semana – Nilva Gomes – Secretária Municipal de Saúde

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Com 33 anos de serviço no funcionalismo estadual, Nilva Gomes Rodrigues de Souza, está à frente da Secretaria Municipal da Saúde desde 1º de junho de 2021, pela segunda vez. A primeira passagem foi durante a gestão de Eunice Mistilides Silva quando entrou no início do mandato e ficou até os primeiros seis meses da gestão de Pedro Callado. Além de uma demanda ininterrupta e variada, a sua pasta atravessou a pandemia do novo coronavírus que exigiu criatividade, reforço de recursos humanos, materiais e financeiros. Mesmo, agora, passada a fase mais aguda da doença, Nilva precisa administrar situações inesperadas, como a epidemia de Monkeypox e os baixos índices de vacinação. Ela é a nossa Personagem da Semana. 


A TRIBUNA: Você entrou na Secretaria no período mais crítico da pandemia. Como foi isso?
NILVA GOMES: Por coincidência, quando eu cheguei foi também quando a vacinação começou a fluir. Já tinha começado, e tinha sido levada para a Igreja Batista. Foi uma excelente ideia. Tínhamos dificuldades por conta do calor, do sol naquele horário porque vacinávamos as faixas etárias mais altas, mas enfrentamos e fomos em frente. Deu certo. Teve dia de vacinarmos 1.490 pessoas e isso é muita gente. É lógico que tem falhas, mas no geral foi muito bem.  


A TRIBUNA: Agora deu uma amenizada na procura, né? Caiu a procura por vacinas. Você acha que pode ser por causa do medo da doença? Quer dizer, quando os casos estavam lá no alto, as pessoas corriam para se vacinar, mas quando a doença recua, as pessoas perdem o medo e deixam de se cuidar. 
NILVA GOMES: A gente observa isso. Por exemplo, no final do ano passado, quando houve aquele surto no Lar dos Velhinhos, as pessoas corriam para os postos de vacinação e a gente ouvia isso na fila. As pessoas comentavam que era por isso que estavam se vacinando. Essa é a tendência e a gente tem trabalhado para fazer a busca ativa dos faltosos. Relativamente, com a segunda dose, nós estamos bem, alcançamos mais ou menos 87% do público vacinal, não está ruim. Só que estamos com 2.400 que não tomaram a segunda dose que é bastante, e mais de 11 mil que não tomaram a terceira e quarta doses. É um número muito grande, quase um terço da população vacinável. Sem contar as pessoas que não tomaram nem a primeira dose.


A TRIBUNA: E as outras vacinas?
NILVA GOMES: O movimento anti-vacina vem crescendo há muito tempo. Percebemos que vem havendo uma queda no índice vacinal de uns anos para cá, mas isso se acentuou durante pandemia de Covid. Tivemos uma redução grande. 
Antes ninguém perguntava de qual laboratório era a vacina, de qual país, qual conteúdo etc. A nossa preocupação é que doenças que já estavam erradicadas há muito tempo por conta da vacinação voltem justamente por falta de vacinação. 
Pra se ter uma ideia, os índices vacinais são os seguintes: BCG, a nossa cobertura é de apenas 24%. Rotavírus é de 22,45%, Pneumo, 22,45%, a Pentavalente 18,49% e a Pólio é de 22,64%. Eu acho que é essa tranquilidade de não ter casos, mas a população tem que se conscientizar que não está tendo casos por conta da vacinação que foi feita anos atrás.

 
A TRIBUNA: E o Covidário vai mesmo deixar de atender?
NILVA GOMES: Felizmente, a redução no número de casos nos possibilita isso. Ontem (quarta-feira) detectamos que foram coletados só três testes. Para a finalidade que ele foi criado, o Covidário era para dar um suporte, para ser uma referência para as outras unidades nos casos moderados que precisavam de oxigênio. Hoje os casos não estão sendo graves. Era uma situação emergencial porque tinha uma superlotação na UPA e o prefeito decidiu montar o Covidário para as pessoas que precisavam de um tratamento mais intenso. Hoje todas as nossas unidades atendem Covid e vamos continuar atendendo com todos os cuidados.


A TRIBUNA: Tem pessoas contratadas lá ou só funcionários públicos?
NILVA GOMES: Tem pessoas contratadas. São médicos, técnicos de enfermagem, enfermeiros, auxiliar de limpeza, auxiliar de farmácia e farmacêuticos. Quase todos os contratos serão encerrados. Apenas os 5 farmacêuticos serão absorvidos pelo município. Tem concurso vigente, mas não foram criados os cargos na Prefeitura, então eles serão absorvidos.

 
A TRIBUNA: Vocês estão preparados para uma possível repercussão negativa dessa medida?
NILVA GOMES: Sim, sabemos que pode haver críticas, mas se mantivermos aberto, com gastos, também haverá críticas. Covid é atenção básica e isso está sendo feito. A doença vai entrar na nossa rotina, como a H1N1 e todas as outras.  


A TRIBUNA:  E sobre a Monkeypox, o município está preparado? Já houve casos na região noroeste?
NILVA GOMES: Sim, já fizemos até uma capacitação. Temos um médico infectologista aqui na Secretaria. Quem for atender os primeiros casos tem que ter respaldo. É uma novidade e ninguém conhece exatamente a doença. Está todo mundo receoso, mas eles conhecem os critérios de diagnóstico e a letalidade não é tão grande, graças a Deus. A equipe está toda preparada, inclusive nas unidades, mas acreditamos que o primeiro caso será registrado na UPA.

 
A TRIBUNA: A Secretaria de Saúde deve ser a que tem mais demanda, o serviço aqui nunca para, estou certo?
NILVA GOMES: Sim, temos demanda de todos os lados, todas as idades. Temos demanda até dos animais. O trabalho é difícil e sabemos que quanto mais você amplia o leque de serviços prestados, mais exigência tem. Você nunca vai conseguir agradar 100%. A gente tem que trabalhar na prevenção porque atenção básica é prevenção. Quando acontece (uma doença) precisamos ter o plano para intervir. O município é gestão de atenção básica e isso significa que 85% dos casos têm que ser resolvidos no município. Os encaminhamentos para especialistas deveriam ser só em torno de 15%. O nosso município tem uma resolutividade dentro do que a gente espera, em torno de 23%. Isso não depende apenas da unidade, mas também da gravidade do caso. 


A TRIBUNA: As pessoas confundem um pouco as atribuições, não é? Por exemplo, se a Santa Casa não atendeu bem, colocam a culpa na Prefeitura, se o AME não atendeu bem a culpa é da Prefeitura, se a UPA … 
NILVA GOMES: Confundem muito. Poucos dias atrás eu conversei com uma pessoa muito bem esclarecida e ela não fazia ideia que a gestão da Santa Casa não é do município. No caso da UPA é porque o prefeito de Jales é o presidente do Consorcio que administra a UPA, 60% do atendimento lá é de moradores de Jales, acaba respingando na Secretaria de Saúde, mas o município repassa recursos para eles fazerem a gestão.  


A TRIBUNA: Quando há alguma reclamação lá, isso chega até vocês? A relação de vocês é próxima?
NILVA GOMES: Hoje mesmo estávamos em uma reunião lá, antes das 10 horas. Inclusive eu já avisei que com o fechamento do Covidário, aos sábados e domingos, a referência vai ser a UPA. 


A TRIBUNA: E a Câmara? Como vocês encaram os questionamentos?
NILVA GOMES: Eu tenho uma relação ótima com eles. Desde a outra gestão. Só acho que algumas coisas não precisavam ser questionadas no papel. Eu até prefiro que me liguem, que venham aqui, mas eles me ligam, me mandam áudios.  


A TRIBUNA: Vocês têm previsão de concursos para novos servidores?
NILVA GOMES: Temos um levantamento de que precisamos e temos que criar os cargos de farmacêutico. Na verdade, precisamos de pessoal de apoio. Por exemplo, se eu precisar de pintor, eletricista ou encanador, nós não temos. Precisamos pedir apoio de outras secretarias. É a intersetorialidade das ações das secretarias, mas acontece que a própria Prefeitura tem um número muito reduzido desses profissionais e a gente reivindica exclusivo para nossa secretaria. Temos 18 unidades, entre 11 Postos de Saúde, SAE, Zoonoses, Almoxarifado, Laboratório, Farmácia, enfim um serviço de saúde com muitos prédios que precisam de assistência. Felizmente, o Luís Henrique chamou os concursados e foi feita a contratação emergencial, porque iria colapsar a saúde totalmente. Antes não tínhamos nem pessoal de limpeza, não tinha técnico, enfermeiro, nem farmacêuticos. Foi uma medida muito acertada. 

 

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