Domingo, Novembro 24, 2024

Entrevista da Semana – Paulo Corrêa – Coordenador da Defesa Civil de Jales

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Coordenador da Defesa Civil Municipal de Jales desde 2017, o técnico agrícola da Secretaria de Agricultura, Abastecimento Pecuária e Meio Ambiente, Paulo Fernando Corrêa, de 32 anos, é um dos funcionários municipais que mais trabalha durante os meses de estiagem. Até meados de outubro, Paulo precisa ficar atento ao telefone celular que pode ser acionado a qualquer hora, em qualquer dia, para enfrentar fogo, fumaça e colocar a sua vida em risco para combater ou mitigar os efeitos de uma catástrofe. A tarefa nem sempre é bem compreendida, uma vez que cabe à Secretaria notificar, aplicar multas e registrar queixas na polícia contra aqueles que causam danos ao meio ambiente ou deixam seus imóveis fora das exigências legais.
A Defesa Civil de Jales pode ser acionada por qualquer pessoa ou órgão através do telefone celular (17) 99672-1274, nos sete dias da semana em 24 horas por dia.  

  
A TRIBUNA: O que é a Defesa Civil?
PAULO CORRÊA: É um conjunto de ações que o poder público toma para poder proteger a população de condições adversas. Seja prevenção a alagamentos, incêndios, tempestades, enfim, catástrofes de uma forma geral. 


A TRIBUNA: Prevenir e combater, certo?
PAULO CORRÊA: Prevenir e mitigar. Por exemplo: caiu uma árvore no meio da via. Nós temos que estar prontos para retirar a árvore e desobstruir a via. Desmoronou ou pegou fogo numa casa. É a Defesa Civil quem avalia se o munícipe tem condições de voltar para aquela casa. Se não tiver, a gente realoca ele para um dos locais que a Prefeitura dispõe, como Casa do Imigrante ou ajuda a realocar em casa de parente.   


A TRIBUNA: São vocês que fazem a avaliação do imóvel?
PAULO CORRÊA: Sim, Temos um engenheiro pertencente ao grupo da Defesa Civil. Ele vai lá e faz a avaliação das condições de integridade do imóvel. 


A TRIBUNA: Muita gente imagina que a Defesa Civil seja um órgão independente dentro da Prefeitura, com hierarquia, prédio próprio e estrutura própria. É isso mesmo ou é um grupo composto por vários órgãos interligados?    
PAULO CORRÊA: É uma tendência que a Defesa Civil ganhe corpo e vá para uma secretaria específica. Desde que eu comecei a gerir a Defesa Civil em 2017, nós já conseguimos bastante estrutura para ela, tanto é que foi a primeira vez que conseguimos uma emenda parlamentar para a Defesa Civil. Foi com essa emenda que conquistamos uma viatura de combate a incêndio, gerador e motosserra, e Jales nunca tinha recebido isso. A tendencia é ter servidores específicos para isso. Hoje a defesa civil é subordinada ao gabinete do prefeito. Só que temos uma grande cadeia de funcionários [de outras pastas] ligados à Defesa Civil porque ela é muito ligada à Secretaria de Promoção Social, de Saúde e de Obras, então a coordenação da Defesa Civil faz isso mesmo: coordena as ações de defesa civil dentro da Prefeitura. Nós não temos um caminhão para combater incêndio, por exemplo. Temos que usar o da Secretaria de Agricultura. A gente usa o engenheiro da Secretaria de Agricultura, o assistente social da Secretaria de Promoção Social, então a gente coordena essas ações que tem que ser tomadas. Em todos os municípios pequenos é assim que funciona.  


A TRIBUNA: E vocês trabalham junto com outros órgãos? Por exemplo, se acontecer um incêndio, vocês acionam os bombeiros, Sabesp etc?
PAULO CORRÊA: Isso. A gente chama quem pode ajudar nessa questão. Lembrando que quando tem um desastre de grande proporção, quem vai administrar a ocorrência são os bombeiros. A gente analisa a questão estrutural do imóvel. 


A TRIBUNA: Estamos chegando numa época crítica, quando as ocorrências de incêndios aumentam muito. Vocês estão preocupados?
PAULO CORRÊA: Muito. A nossa região é crítica na questão da unidade do ar. Nós acompanhamos e informamos à Defesa Civil do Estado e já registramos 8% de umidade do ar, enquanto no deserto do Saara a umidade média é de 12%. Todo ano, o mês de setembro é muito preocupante. Aliás, Jales é a região mais preocupante do estado em questão de incêndio florestal. Tanto que nós temos um grupo com a Defesa Civil estadual, o Corpo de Bombeiros de São Paulo e de Jales para ficar de alerta e poder tomar alguma providência com relação a isso, se precisar. 


A TRIBUNA: Como está a situação deste ano até agora?
PAULO CORRÊA: Até a semana passada, o Corpo de Bombeiros tinha combatido aproximadamente 80 focos de incêndio e nós combatemos 30 focos. Isso é muito alto. O ideal é que não tivesse nenhum, né? E para uma cidade do tamanho de Jales é um número muito alto. 


A TRIBUNA: Esse alto número de incêndios se deve ao quê?
PAULO CORRÊA: Todos eles são criminosos. Mas pode acontecer de um carro que pegou fogo e se estendeu para a vegetação, um fio energizado que se rompeu e pegou fogo no mato… pode acontecer. Mas a maioria é incêndio criminoso. É a pessoa que ateou fogo no quintal para limpar ou que limpou o terreno e ateou fogo no pasto e o fogo se alastrou. É o que mais acontece. 


A TRIBUNA: Isso, além do dano ambiental, coloca em risco edificações e moradores. Por exemplo, no JACB e Jardim Alvorada tem mata bem perto de residências que podem ser atingidas pelo fogo.
PAULO CORRÊA: Uma fagulha pode alastrar o fogo para uma casa ou um veículo, e baixa umidade do ar, com vento, facilita essa propagação. 


A TRIBUNA: Como está a umidade hoje (quarta-feira, dia 27 de julho, às 9h30)?
PAULO CORRÊA: Por enquanto está tranquilo porque ainda é de manhã. Está em 64.7%, mas ontem às 16 horas estava 26% que é bem mais baixo. O nosso horário crítico é à tarde quando a umidade abaixa muito e a temperatura sobe. Aí fica bem propício para o fogo. 


A TRIBUNA: Vocês têm algum trabalho de prevenção?
PAULO CORRÊA: Nós temos uma campanha nas escolas, a Secretaria Municipal de Comunicação está divulgando gravuras e textos nas redes sociais e temos alertas por SMS enviados pela Defesa Civil do Estado. Qualquer pessoa pode se cadastrar no 40199, informando o seu CEP, que passa a receber alertas quando a umidade do ar estiver baixa ou quando houver risco de temporais e descargas elétricas. Nesse período, eles mandam alertas frequentes. 


A TRIBUNA: Isso adianta?
PAULO CORRÊA: Acreditamos que a melhor forma de resolver isso é a conscientização do povo, porque se a população estiver consciente do perigo, do risco que é o incêndio, ela não vai atear fogo, não vai provocar um incêndio. A questão é explicar para as crianças e a população que não é só o risco material. É questão de vida. Risco à fauna, flora e até humana. No JACB, por exemplo, o incêndio que teve lá no fim de semana pode ter morrido animais lá dentro e vai levar tempo para a mata se recuperar. A mata nem tinha se recuperado dos incêndios de 2019, 2020, 2021 e voltou a pegar fogo. Em 2020 queimou bastante.  


A TRIBUNA: Quantas ocorrências vocês precisam atender no pico dos focos, em setembro? E vocês conseguem dar conta?
PAULO CORRÊA: São três, quatro ou mais focos todos os dias. Por isso que a Defesa Civil é importante. Os bombeiros atendem uma região muito ampla e às vezes estão longe. Se estiverem combatendo um incêndio lá em Dirce Reis, por exemplo, não vai poder sair de lá para vir para Jales. Por isso, temos a nossa equipe aqui de prontidão. Passamos por treinamento e esse equipamento novo já está ajudando bastante, porque está numa pick-up que é pequena e tem mais mobilidade. O caminhão-pipa é grande, pesado e tem que enfrentar o trânsito. 


A TRIBUNA: Vocês têm trabalho de reflorestamento, reposição da fauna que for danificada pelo fogo?
PAULO CORRÊA: Sim, temos projetos de reflorestamento. Por exemplo, na matinha do JACB que pegou fogo agora, vamos apenas esperar a época de chuvas para iniciar o reflorestamento em toda aquela área que será feito em quatro etapas, de forma gradual. No Bosque também estamos fazendo ações. Estamos construindo uma sala de educação ambiental, estão sendo instalados hidrantes dentro do Bosque, além, da manutenção dos aceiros, roçagem, que é feito direto para diminuir o risco de incêndio. Aí vem a história do incêndio criminoso porque o fogo vem de dentro pra fora, alguém coloca o fogo.   


A TRIBUNA: Mas coloca fogo por que? Quer distribuir ou quer se apropriar do terreno…qual motivação?
PAULO CORRÊA: Tomar posse não é porque lá é área pública, não tem uso capião, não tem como tomar posse, não vai ser dele nunca. É para destruir mesmo, causar transtorno para população daquele local. Inclusive, testemunhas viram um homem andando por lá e dizendo que iria atear fogo. Nesses casos, é importante acionar a Secretaria de Meio Ambiente, chamar a polícia, Defesa Civil… nós vamos até o local para não deixar chegar no ponto que chegou. Nesta semana, registramos um Boletim de Ocorrência e a Polícia Civil vai investigar a autoria. 


A TRIBUNA: O que vocês fazem com as pessoas que não limpam seus terrenos?
PAULO CORRÊA: Existe toda uma legislação para isso. Nós notificamos os proprietários para que limpem em até 7 dias. Se não limparem, a Prefeitura aplica uma multa de aproximadamente R$ 900,00, limpa e cobra R$ 2,46 por m² que a Prefeitura limpou. Somente neste ano já fizemos 1.625 notificações. A grande maioria limpa o terreno, sem haver a necessidade de ser multada.  


A TRIBUNA: Os dados que vocês monitoram são da estação meteorológica da Escola Agrícola, os mesmos que estão disponíveis no CIAGRO? 
PAULO CORRÊA: Sim, são atualizados de hora em hora. Como é na zona rural, tem uma diferença pequena porque tem mais vento e esfria mais, mas a diferença é muito pequena. Estamos avaliando a possibilidade de a Prefeitura adquirir um sistema de estações. Teríamos várias estações em locais diferentes da cidade porque, por exemplo, no JACB é um clima, aqui onde a gente está (Jardim Eldorado) é outro clima, então teremos uma rede de monitoramento municipal, com informações atualizadas em tempo real e disponíveis para a população em geral e para a Defesa Civil do estado. 

 

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