Sábado, Novembro 23, 2024

Leite de caixinha sobe quase duas vezes o índice da inflação

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O preço do leite ao produtor registrou novo aumento no pagamento de maio, em função ainda de menor oferta de leite. O preço médio nacional pago ao produtor foi de R$ 2,54 por litro. No varejo, o preço da cesta de lácteos apresentou aumento mensal de 3,4%. Todos os itens pesquisados apresentaram elevação de preço, com destaque para o leite condensado e o leite UHT. Em 12 meses, leite e derivados tiveram os preços majorados em 21,3%, ficando acima da inflação oficial brasileira, o IPCA, que acumulou 11,7% em 12 meses. 
Os custos de produção de leite, medido pelo ICPLeite/Embrapa, registraram aumento de 16.6% em relação a maio de 2021 e recuo de 1,4% em maio desse ano. O recuo foi devido à desaceleração nos preços dos concentrados, volumosos, energia e combustíveis.
As conclusões são da reunião de conjuntura da equipe do Centro de Inteligência do Leite, da Embrapa Gado de Leite, realizada em 14 de junho de 2022. 
Diante do cenário desafiador de 2022, a produção brasileira de leite teve queda recorde no primeiro trimestre de 2022, de 10,3% na comparação com o primeiro trimestre de 2021, segundo o IBGE. O anuncio da redução na captação do leite teve impacto imediato no mercado, iniciando uma acirrada disputa pelo produto, com reflexo no valor do preço do leite spot, que superou os R$4,0/litro.
Em que pese a fraca demanda por produtos lácteos, advinda do alto desemprego, redução do poder de compra dos salários pela inflação e elevado endividamento e inadimplência das famílias, a oferta parece fraca o suficiente para pressionar os preços. A exemplo, nos últimos 12 meses até maio o leite UHT ao consumidor subiu 29,3%, os queijos 17,4%, manteiga 12,4% e iogurte 20,4%, todos com alta acima da inflação, medida pelo IPCA em 11,7%.
Mas esses aumentos, parecem ajustes das apertadas margens que o setor enfrenta. A pesquisa da Embrapa mostra o spread do queijo muçarela sobre o preço do leite ao produtor, com margem inferior a R$1.00 por litro de leite utilizado em sua confecção. Essa margem é a existente para fazer frente aos demais custos (mão-de-obra; energia; logística; embalagens; outros ingredientes, etc). Se considerarmos ainda o custo de longo prazo, onde as depreciações diversas são consideradas, é provável, dependendo da eficiência industrial e da escala de produção, que diversos laticínios estejam trabalhando com margens reduzidíssimas ou mesmo negativas. E este cenário se aplica também para outros derivados, como o leite em pó. 
De acordo com os especialistas, a oferta de lácteos dos principais exportadores mundiais tem diminuído ao longo do ano de 2022, o que ajuda a explicar os preços dessas commodities em patamares elevados.
A China, o maior importador de lácteos, reduziu suas importações da maioria dos produtos, a exceção do leite em pó integral que está 6.9% acima na comparação janeiro-abril de 2021 e 2022.
Para os mercados de milho e soja, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos projeta um crescimento de 12,32% na produção mundial da soja, com destaque para a América do Sul (Brasil 18,25% e Argentina 17.51%). Para o milho, as projeções indicam redução na produção mundial da ordem de 2.5%, com menor oferta dos Estados Unidos, União Europeia e Ucrânia. No entanto, há projeções de aumento da produção na América do Sul (Brasil 8.62% e Argentina 3,77%). A menor oferta de milho no mundo tende a manter as cotações mais elevadas, dependendo da pressão compradora dos grandes importadores. Para o caso brasileiro, a produção tanto do milho como da soja pode trazer melhora nos custos de produção do leite, desde que não haja aceleração das exportações. O Brasil, certamente, será chamado a compensar as reduções de oferta previstas de outros grandes players do mercado.

 

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