“Às vezes, basta mudar pequenas atitudes ou comportamentos frente à rotina. É fazer as mesmas coisas de forma diferente e não necessariamente migrar para outra carreira ou profissão.”
Faz muito tempo que a inteligência humana pergunta a respeito dos efeitos do trabalho no cotidiano das pessoas. Não há duvidas que desde os primórdios da humanidade se debate a questão do trabalho como elemento produtor de felicidade em nossas vidas. Será que somos realmente felizes com aquilo que escolhemos (ou fomos escolhidos no “deixa a vida me levar, vida leva eu” de Zeca Pagodinho) para ocuparmos, trabalhando, quase a metade de nossa curta existência na terra? O maior teórico da moderna Sociologia do Lazer, Joffre Dumazedier, revolucionário pensador do tempo livre das pessoas, na segunda metade do século XX, influenciou duas gerações de estudiosos de tão importante assunto. A tese principal de sua obra é que as pessoas somente crescem nos planos cultural, emocional e associativista nos períodos de tempo livre, quando realmente fazem as coisas que gostam. O trabalho não seria um martírio, propriamente dito, mas não conteria uma iluminada fonte de prazer. Somente os trabalhos de natureza artística, intelectuais e exigentes de algum tipo de criatividade conseguiriam proporcionar a chamada felicidade no trabalho. É o que podemos chamar de exemplo Jô Soares. Existe maior prazer que fazer o trabalho de Jô Soares? Só entrevista gente interessante, sacaneia todo mundo, morre de rir e faz rir ao mesmo tempo, gerando um trabalho de stresse zero! Como são poucos os felizardos com trabalho semelhante ao de Jô Soares, sobram os infelizes, esmagadora maioria da população. E porque as pessoas são tão infelizes no trabalho? Em primeiro lugar, a eterna insatisfação com o salário!. A seguir, não gostar do que fazem e daí para frente, cada pessoa tem seus rosários de frustrações específicas. As relações das pessoas com o trabalho são cada vez mais complexas e tristes. Hoje, nos grandes centros, o tempo vinculado ao trabalho (locomoção, almoço, eventos, etc.), consome metade do expediente das pessoas. E o cotidiano desagradável do trabalho, esmagado pela interminável rotina, sufoca todas as perspectivas de alegria e prazer que só conseguimos no tempo livre, isto é, fora do ambiente de trabalho. O avanço da informática e de todas as tecnologias que buscam aumentar a produtividade da empresa, não representam adesão efetiva do trabalhador ao sistema, porque as empresas não priorizam fabricar felicidade para seus funcionários. A empresa nasceu para o lucro! O ser humano nasceu para ser feliz, e felicidade, de verdade, só obtemos em nosso tempo livre. É de interesse real das empresas que as pessoas sejam felizes no ambiente de trabalho? Contra a felicidade no trabalho, temos vários constrangimentos, começando pela rotina. Trabalho repetitivo, sem imaginação e criatividade, é tédio na certa. Outro obstáculo é a burocracia e suas montanhas de papel. E temos também a cultura da aparência, fator degradante no trabalho, onde a maior vítima é a mulher, porque dela se cobra uma indumentária mais sofisticada que a do homem. Essência humana pode ser nota zero, mas aparência precisa tirar nota dez. Os departamentos de recursos humanos das empresas estão entupidos de profissionais treinados para o liberalismo selvagem, baseado na frieza, calculismo, racionalismo. É expressamente proibido ter emoções! É preciso conter as emoções, a qualquer custo, senão arranha a imagem. A questão da felicidade no trabalho deveria passar somente por nossa imaginação e as fantasias decorrentes, mas somos impedidos do salutar exercício de ousadia e criatividade. Haverá de chegar o dia que os profissionais de recursos humanos copiarão a receita de Jô Soares. Então suas salas serão, além de um palco bem humorado, a coreografia sonhada pelas pessoas, para serem felizes, no trabalho… e na vida !
PS. Numa vasta meta-análise de 225 estudos acadêmicos, realizados por universidades americanas, identificou-se que o trabalhador feliz é, em média, 31% mais produtivo; suas vendas são 37% mais elevadas; e sua criatividade é três vezes maior.
Por todas as perspectivas que se analise a questão, investir em um ambiente saudável e no bem estar dos profissionais traz muito mais e melhores resultados, garantindo a sustentabilidade de pessoas e organizações.
(*)Marco Antonio Poletto é Gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural