Desde o começo do ano os católicos e a comunidade em geral aguardam com grande curiosidade a revelação do nome que sucederá Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales que se aposenta compulsoriamente aos 75 anos. A espera terminou na última quarta-feira, 21 de outubro, quando a Cúria Diocesana divulgou que o Papa Francisco havia nomeado o padre José Reginaldo Andrietta para a função. Com a nomeação, o titular da paróquia São Judas Tadeu, de Americana, assumiu o título de Monsenhor Reginaldo Andrietta.
A notícia veio acompanhada de fogos de artifício soltos pela própria administração diocesana.
Com 58 anos de idade e 32 de ordenação presbiteral (veja biografia nesta página), o padre José Reginaldo nasceu em Pirassununga e já morou nos Estados Unidos e na Bélgica. Em carta enviada à comunidade, ele falou em manter o rosto da Diocese. “A Igreja Particular de Jales continuará tendo o rosto dos que nela, há muito tempo, fazem sua história. Procurarei apenas contribuir, desde minha experiência pastoral e com a especificidade de meu ministério episcopal, para que essa Igreja continue assumindo sempre mais o rosto dos pobres, excluídos e injustiçados” (leia nesta pagina).
A data da sua posse ainda não foi definida, mas é certo que acontecerá depois da sua ordenação, em Americana, até o final do ano. Enquanto isso, o bispo emérito, Dom Demétrio Valentini continua exercendo a função de administrador apostólico. Ainda não foi divulgada a sua função depois da posse do novo bispo.
“APOSENTADORIA”
A substituição do bispo de Jales atende a uma exigência do Código de Direito Canônico, espécie de constituição da Igreja Católica. “O Bispo Diocesano que tiver completado 75 anos de idade é solicitado a apresentar a renúncia do ofício ao Sumo Pontífice, que, ponderando todas as circunstâncias, tomará providências”, afirma em seu Artigo 401. E acrescenta: “O Bispo cuja renúncia do ofício tiver sido aceita conserva o título de bispo emérito de sua diocese e, se o quiser, pode conservar sua residência na própria Diocese”.
Dom Demétrio, assim como outros bispos e padres nas mesmas condições, receberá um auxílio para o seu sustento.
Segundo o bispo emérito de Santo André, Dom Nelson Westrupp, o Bispo não deixa de ser Bispo. “Não é como um funcionário que deixa o trabalho quando chega a uma certa idade. No que se refere à Igreja particular na qual foi Bispo, o Emérito continua o seu ministério episcopal na oração e demais ofícios previstos pelo próprio direito”.
Futuro Bispo fala oito línguas
Padre José Reginaldo Andrietta é natural de Pirassununga-SP, nascido em 7 de março de 1957. É filho de Octávio Andrietta e Therezinha Octaviano Andrietta. Recebeu a ordenação presbiteral no dia 18 de março de 1983, na paróquia Senhor Bom Jesus dos Aflitos, na cidade natal. Possui bacharel em Filosofia e Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
É especialista em Catequese pelo Instituto Internacional de Catequese e Pastoral Lumen Vitae, Bruxelas, Bélgica e Catequese e Pastoral pela Universidade Católica de Lovaina (Francófona), Louvain-la-Neuve, Bélgica. Em 2009, concluiu o mestrado em Teologia Pastoral também pela Universidade Católica de Lovaina.
Poliglota, José Reginaldo fala Português (nativo); Espanhol (fluente); Francês (fluente); Inglês (fluente); Italiano (básico); Kréol do Haiti (básico); Holandês (básico); Latim (básico).
Durante a caminhada no sacerdócio, foi assessor nacional da Juventude Operária Católica Brasileira (1983 a 1987) e também assessor continental da Juventude Operária Cristã Internacional para as Américas do Sul, Central e do Norte, e do Caribe, com sede no Equador (1991 a 1994). Foi vice-coordenador e orientador de estudos do Propedêutico e membro da Equipe de Formadores do Seminário da Diocese de Limeira (1994 a 1997).
Assessor Nacional da Juventude Operária Cristã dos Estados Unidos, com sede em Baltimore – MD (de abril de 1997 a fevereiro de 2000). Assessor Mundial da Juventude Operária Cristã Internacional, com sede em Bruxelas, Bélgica; acompanhamento do trabalho desta organização, especialmente no continente africano (de março de 2000 a agosto de 2006).Vigário Paroquial da Paróquia Sagrada Família (Schaerbeek), Bruxelas, Bélgica (de agosto de 2000 a junho de 2003).
Vigário Paroquial para a Unidade Pastoral Kerkebeek: Paróquias Santa Suzana e Sagrada Família (Schaerbeek); Nossa Senhora e São Vicente (Evere); e Santa Elisabete (Haren), Bruxelas, Bélgica (de julho de 2003 a junho de 2009).
Desde 2009, exerce função de pároco da paróquia São Judas Tadeu de Americana (SP). É também diretor eclesiástico da diaconia São Judas Tadeu e professor de Teologia Pastoral do Centro Diocesano de Formação Teológica da Diocese de Limeira. Participa como membro do Conselho de Presbíteros desde 2014. Padre José é autor do livro “Os Jovens Trabalhadores Conquistando Trabalho e Justiça”.
“Apoiarei as ações sociais da Diocese em favor de condições dignas de vida para todos”, ressaltou novo bispo durante entrevista
O jornal A Tribuna conversou (primeiro por celular, depois por e-mail) com o futuro bispo de Jales, poucas horas depois do anúncio. Muito solícito, simpático e atencioso, José Reginaldo Andrietta respondeu a todas as perguntas poucas horas depois de recebê-las. Com humildade, ele explicou que ainda não podia ser chamado de Dom.
“Desde o anúncio da minha nomeação feita pela Santa Sé, em Roma, passei a ser Monsenhor. Passarei a ser chamado Dom somente a partir da ordenação episcopal. Como sou mais conhecido por Reginaldo, sugiro que, neste ínterim, eu seja chamado Monsenhor Reginaldo, e a partir da minha ordenação, Dom Reginaldo”. Confira a entrevista:
A Tribuna: O senhor já conhece a cidade de Jales e a sua Diocese (uma das maiores do Estado)?
Mons. Reginaldo: Suponho que o senhor esteja me perguntado sobre o município de Jales, pois além de sua área urbana, Jales possui também área rural que, segundo minha pesquisa, é importante.
Ainda não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente Jales. No entanto, há muito tempo tenho ouvido falar sobre esse município, aliás, diretamente de muitíssimas pessoas dessa região, que emigraram para Americana e municípios vizinhos. Curiosamente, a Paróquia São Judas Tadeu, onde sou pároco há seis anos, é composta por muitíssimas famílias oriundas dos municípios da Diocese de Jales.
Certamente, desde o início do meu ministério episcopal na Diocese, me dedicarei a conhecer e a analisar a realidade de todos os seus municípios, desde o contato direto com as suas populações, suas comunidades, seus agentes de pastoral, suas instituições e profissionais especializados, dando especial atenção ao que Dom Demétrio e os presbíteros da Diocese me informarão.
A Tribuna: O senhor já sabe quando será a sua posse? Pretende vir a Jales antes disso?
Mons. Reginaldo: Ainda estou em comunicação com Dom Demétrio para combinar a data da minha ordenação episcopal que será em Americana e a data da posse em Jales. Logo, serão divulgadas.
A Tribuna: Dom Demétrio Valentini, bispo que o senhor sucederá, tem forte atuação política (fez parte de um conselho do governo Lula e é amigo do ex-ministro Gilberto Carvalho, entre outros membros). O senhor também tem atuação na Juventude Operária Cristã e publicou um livro sobre a justiça social no trabalho. Podemos esperar uma atuação junto às áreas sociais do governo federal?
Mons. Reginaldo: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,33). Esta e tantas outras orientações de Jesus relacionadas à vida em sociedade, devem iluminar a vida dos cristãos e a pastoral da Igreja na área social. Apoiarei as ações sociais da Diocese em favor de condições dignas de vida para todos, particularmente de pessoas e famílias que vivem na precariedade, sem excluir possibilidades de ações conjuntas com instituições públicas e privadas que se pautam pela honestidade e solidariedade.
A Tribuna: O senhor pretende promover alguma ação efetiva, em âmbito local, para garantir os direitos da juventude operária? Conhece a realidade da juventude trabalhadora da região?
Mons. Reginaldo: Tenho larga experiência na formação e capacitação de jovens trabalhadores e trabalhadoras, desde uma perspectiva cristã. Trata-se de um setor importante da sociedade que necessita de atenção especial da Igreja. Procurarei conhecer a realidade específica da juventude trabalhadora da cidade e do campo na Diocese, contando com a colaboração de presbíteros e agentes de pastoral de juventude no discernimento de horizontes pastorais nessa área.
A Tribuna: Como será a sua relação com o bispo que deixa a Diocese, uma vez que ele permanecerá como bispo emérito e morando em Jales?
Mons. Reginaldo: Nossa comunicação e entendimento mútuo está fluindo maravilhosamente bem, demonstrando que além de irmãos no episcopado, seremos bons amigos. Estou feliz por saber que ele estará próximo, residindo em Jales, pois, além de poder contar com a sua colaboração pastoral, poderei, certamente contar com a sua assessoria em questões que ainda não tenho suficiente conhecimento e experiência.
A Tribuna: A Diocese de Jales possui três emissoras de rádio (uma FM e uma AM em Jales e uma AM em Fernandópolis),mas não possui jornal, revista ou Assessoria de Imprensa.Como o senhor avalia essa estrutura? É pequena, grande ou suficiente?O senhor pretende fazer alguma modificação na forma de comunicação com os fiéis e com a população em geral?
Mons. Reginaldo: Parabenizo a Diocese por essas três emissoras de rádio. Quero colaborar para que se desenvolvam ainda mais. Com toda certeza, estarei atento à necessidade e à possibilidade de desenvolver igualmente outros meios de comunicação, contando com a assessoria de profissionais qualificados. No entanto, não tenho condições de avaliar o que ainda não conheço, o que me impede, no momento de pensar, em modificação. Toda mudança em qualquer área pastoral, se for necessária, será feita mediante discernimento coletivo e com prudência, afinal a Igreja é comunhão e participação.
A Tribuna: Seja bem vindo. Esperamos que este seja o primeiro de muitos contatos futuros e de boas notícia para a nossa Diocese. Desde antemão, muito obrigado.
Mons. Reginaldo: Agradeço-lhe pela atenção. Coloco-me à sua disposição, com alegria.
Dom Demétrio Valentini comenta nomeação
Dom Demétrio Valentini também falou ao jornal A Tribuna sobre a nomeação de seu substituto. Ele revelou que a sua renúncia já havia sido aceita pelo Papa Francisco, portanto, ele já era Bispo Emérito de Jales. Até a posse do seu substituto, Dom Demétrio continuará governando a diocese.
Num rápido balanço da sua gestão, ele lembrou que quando chegou a Jales havia apenas dois padres diocesanos e que nos seus 33 anos ordenou outros quarenta padres.
A Tribuna: Como o senhor viu a nomeação do padre Reginaldo? Como o senhor vê a atuação dele na área dos jovens operários?
Dom Demétrio: A nomeação do Pe. José Reginaldo Andrietta para ser o novo bispo de Jales foi recebida com muita alegria por todos. Ainda mais diante de sua rica trajetória de ação pastoral em diversos países, como assistente da JOC – Juventude Operária Católica. Seu currículo é um ótimo atestado do empenho pastoral da Igreja diante das situações difíceis por que passou a Juventude Operária Católica.
A Tribuna: A ordenação já tem data marcada? E a posse em Jales? Está previsto um período de transição?
Dom Demétrio: Agora precisamos estabelecer as duas datas principais: sua ordenação episcopal, que geralmente é feita na Diocese de origem do novo bispo, e a data da tomada de posse da Diocese de Jales. A questão que se coloca é se podemos em tempo fazer tudo antes do final deste ano, ou se convém deixar as duas datas para o final de janeiro e início de fevereiro. Quanto à questão do “período de transição”, pode-se dizer que a transição se fará de maneira tranquila e simples, dado o fato de que o Papa, junto com a aceitação de minha renúncia, me nomeou como “ADMINISTRADOR APOSTÓLICO, com a incumbência de continuar governando a Diocese até o dia da posse do novo bispo.
A Tribuna: Sabemos que o senhor continuará residindo em Jales. Se tornará, então, Bispo Emérito? Terá alguma função específica na Diocese de Jales? Pretende tirar férias?
Dom Demétrio: Olha,“bispo emérito” já sou! E assim como na família há lugar para os avós, na Diocese há lugar também para o bispo emérito. Sempre haverá o que fazer. Mas por enquanto tenho o que fazer para preparar a chegada do novo bispo. “A cada dia o seu fardo”, a cada tarefa a sua incumbência!
A Tribuna: Como bispo emérito, o senhor terá mais liberdade e tempo para algum projeto pessoal (uma autobiografia, por exemplo). Pretende realizar algum projeto desse tipo? Quem sabe, um livro contando as suas experiências?
Dom Demétrio: São boas sugestões! Mas por enquanto não estou traçando nenhum calendário pastoral…
A Tribuna: De forma resumida, como o senhor avalia a situação em que deixa a Diocese com relação à que encontrou?
Dom Demétrio: Só uma referência para perceber a diferença, e o caminho andado: quanto cheguei, havia dois padres diocesanos, os outros eram todos padres estrangeiros, a maioria idosos, prontos para voltarem para a Europa. Pois bem, ao longo desses 33 anos, pude ordenar quarenta padres. De tal modo que agora a Diocese conta com um presbitério consistente e identificado com a realidade de nossa diocese. Basta isto para perceber as diferenças.
A Tribuna: Existe alguma coisa que gostaria de ter feito, mas não conseguiu?
Dom Demétrio: Foi feita muita coisa, também do ponto de vista administrativo. De vez em quando, ao lembrar a caminhada feita, fico angustiado só em imaginar em fazer tudo de novo! Por isto, o que deu, deu, o que ainda falta, outros farão!