Saiu a esperada encíclica sobre a ecologia. Ela começa surpreendendo pelo título, que ficará igual para todas as línguas: “Laudato si´!”. São as primeiras palavras do “Cântico das criaturas” de São Francisco de Assis: “Louvado sejas, meu Senhor!”
O Papa Francisco vincula esta encíclica a São Francisco, cujo nome ele assumiu no final do conclave que o elegeu como Papa.
A encíclica é a forma mais solene de um Papa se pronunciar sobre determinado assunto. É uma espécie de “carta circular”, destinada a todos, sobre um assunto particularmente relevante.
Com esta encíclica o Papa conclui, dá para dizer, o formato do seu pontificado.
Assumindo o nome de Francisco, assinalava com clareza sua intenção de se inspirar em São Francisco de Assis para levar em frente a renovação eclesial proposta pelo Concílio.
Faltava dar forma à outra dimensão, o cuidado pela natureza, que São Francisco expressava de maneira poética com seu “cântico das criaturas”, de onde agora o Papa foi tirar o título de sua encíclica.
Vale a pena conferir as primeiras palavras, para perceber a ligação que o Papa estabelece entre o assunto que ele vai propor, e a figura que o inspirou:
“Laudato si`, mi` Signore, louvado sejas, meu Senhor” cantava Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem compartilhamos nossa existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe em seus braços. “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta, nos governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”.
Antes de falar do cuidado que devemos ter com nossa “casa comum”, o Papa vincula este amplo assunto ao testemunho do Santo de Assis, que ainda hoje permanece como fonte inspiradora da simplicidade e autenticidade de vida.
Sabemos que o Papa Francisco fez questão de contar com a ajuda de muitas pessoas, peritas em ecologia, para somar adesões em torno de um assunto que tem claras dimensões planetárias.
A encíclica chama a atenção para o fato da atual crise ecológica, que vai se acentuando de maneira rápida, ter raízes humanas. Este, aliás, é um dos seis capítulos da encíclica: “A raiz humana da crise ecológica”.
Esta já é uma tomada de posição muito importante. A crise ecológica tem tudo a ver com o comportamento humano diante da criação. E se ela está ligada ao comportamento humano, urge concluir que sua superação também precisa estar ligada a um comportamento humano consciente e equilibrado, enquanto é tempo.
Nisto reside o grande objetivo desta encíclica. A crise ecológica requer mudança de comportamento:
“Esta irmã clama contra o mal que lhe provo¬camos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e domina¬dores, autorizados a saqueá-la.”
Pois bem, aí reside também o desafio. Todos percebem a urgência de mudar. Mas ninguém se anima a começar.
Diante deste impasse, emerge agora uma nova esperança. Quem sabe a palavra do Papa Francisco fortaleça o consenso, e inicie um processo de mudança de comportamento, respaldado na consciência ética de nossa responsabilidade com a natureza.